terça-feira, 27 de agosto de 2013

À descoberta da Ilha de Arousa 24/08/2013

A Galiza continua repleta de mistérios e paisagens sublimes que surpreendem em cada recorte, em cada escarpa, em cada porto, em cada praia. Entre a costa oeste da província da Corunha e toda a costa da província de Pontevedra, desde o Cabo Finisterra até à fronteira portuguesa, as Rias Baixas apresentam uma boa amostra do que a Galiza têm de melhor para oferecer a todos aqueles que têm alergia ao sofá.
Alojada numa reentrância das Rias Baixas, unida por uma ponte de 2 quilómetros ao continente, a Ilha de Arousa alberga uma comunidade de pescadores que fazem do mar a fonte do seu sustento, e acolhem com hospitalidade qualquer ocasional visitante. Porque por vezes as palavras são escassas, ficam as do Torrada e Meia de Leite.
«Entre braços de terra e num colo de águas oceânicas encontrámos esta ilha galega. Do seu recorte nascem ambientes singulares e da sua Natureza assimilam-se odores, cores e sons tranquilizadores. A Ilha de Arousa casa com sabedoria o ser agitado e fresco do Atlântico com a familiaridade e brandura do continente. Se fugirmos do lado mais concorrido para guarda-sóis e toalhas, defronte aos montes galegos e nos embrenharmos nos trilhos ladeados por pinheiral, rumo a oeste, deparamo-nos com o lado mais sedutor da pequena ilha.
Aqui sujeitamo-nos mais ao temperamento e humores do oceano, inspirada pela calma das pequenas enseadas e pelas ofertas que as águas deixaram nas areias. De permeio, um ambiente distinto, o dos pinheiros altos e escultóricos, chão de caruma e pinhas abandonadas, dunas suaves e odor resinoso. Aqui e acolá sobreiros de pequeno porte acrescentam singularidade a este lugar.
Seguem-me os passos as aves que por ali se fixam ou descansam de outros voos, inspiro a essência de mar e de pinho, das algas naufragadas e das diversas plantas que atapetam o terreno. Os pequenos areais, com milhões de conchinhas brancas esmagadas pela erosão, convidam-me e não resisto a caminhar sobre eles. Ao largo, pequenas embarcações vão passando e adivinha-se a sua preciosa carga: peixe, marisco e bivalves. A tarde vai já no fim, as cañas mataram a sede e os pratos de mexilhões revelam o vazio das conchas negras amontoadas.»



Fica o registo fotográfico de um trilho circular em volta da Ilha, que permite desvendar o íntimo deste local singular, acessível a todos aqueles que gostam de caminhar...



... e como a Galiza é Celta, não se surpreendam se encontrarem um qualquer Festival da Amêijoa Roxa no meio do percurso, com um qualquer grupo de excelente qualidade a tocar num recinto onde se come tortilha, marisco, e se bebe um bom Alvarinho. Conta a lenda que as primeiros rebentos de Alvarinho chegaram à foz do rio Umia por mar, trazidos por monges na sua peregrinação a Santiago de Compostela.

Enfim, curiosidades do Caminho!

domingo, 18 de agosto de 2013

O Caminho do Norte: de Ribadeo a Finisterra | Fotos

Para a maioria dos Peregrinos Santiago é o destino final, não colocando sequer a hipótese de seguir até Finisterra e Muxia. No entanto, o caminho para a Costa da Morte oferece uma ocasião excecional para ver a Galiza em todo o seu esplendor.
Apesar de supostamente o corpo do apóstolo Tiago repousar em Compostela, a rota das estrelas continua inundada pelo espírito do caminho até ao “Fim da Terra”.
Embora haja muita informação sobre o Caminho de Santiago, a rota até Finisterra não está tão bem documentada. De acordo com John Bierley no livro “Caminho Finisterre A Practical & Mystical Manual for the modern day Pilgrim” «seria perdoável pensar que existe uma conspiração, dissuadindo os peregrinos de viajar até ao fim do mundo, e ao fim do caminho».
Talvez seja a conexão de Finisterra com o seu passado pagão. O Sol ao despontar sobre o Monte Pindo, elevando-se a este, inundava de luz a porta de entrada na Ermida de São Guilherme, no entanto, no ocaso, o por do Sol ocorreria na “Terra da Juventude Eterna”, Tir-na-nóg, no horizonte a oeste, vigiado pelo altar pagão ao Sol de Ara Solis. O misterioso Cabo Finisterra marcava a fronteira entre um ponto de referência cristão a este, e uma orientação pagã a oeste.
De acordo com John Bierley, na Idade Média o foco de espiritualidade dentro de Espanha restringiu-se a Santiago de Compostela, enquanto para o resto do mundo, o foco da espiritualidade estava mais a oeste em Finisterra. Por isso, quase todas as referências a Finisterra provêem de viajantes estrangeiros e historiadores, desde Ptolomeu do Egipto, no início da era cristã, até George Borrow no século XVIII.
Seja qual for a causa da sua relativa obscuridade, o certo é que apenas 5% dos peregrinos que chegam a Santiago seguem para Finisterra. No entanto a sua popularidade está crescendo, e começa a ser percebida como uma extensão do caminho principal, convertendo-se no lugar de chegada ao “Fim do Mundo”.
Nesta Evasão, iniciamos a nossa viagem em Ribadeo, na entrada do antigo Reino das Astúrias. Seguimos o Caminho do Norte que passa nesta pequena povoação galega, que conduziu tantos peregrinos que vinham por terra desde França, ou por mar desembarcando nos portos vascos e cantábricos, procedentes de países atlânticos como a Inglaterra, a Flandres, a Alemanha e a Escandinávia.
Uma vez chegados a Castropol, os peregrinos embarcavam para cruzar a ria de Ribadeo, ou bordeavam a sua margem direita até à ponte de Santiago, passando aí para terras galegas. Na Galiza, a rota de peregrinação está bem documentada, partindo da Vila de Ribadeo, porto de desembarque de peregrinos, seguindo pelos vales de Vila Nova de Lourenzá e Mondonedo, cruzando as terras altas de Vilalba e Guitiriz, recebendo a hospitalidade do Mosteiro de Sobrado dos Monxes, antes de unir-se em Arzua ao Caminho Francês. Em poucas jornadas mais, os peregrinos estariam diante da tumba do apóstolo.
Depois de Santiago, seguimos para Negreira, Olveiroa, entrando na Costa da Morte através de Muxia, seguindo posteriormente até Finisterra. As pedras de Ara Solis aguardavam-nos como sempre no final do caminho, no local onde o Sol se esconde por detrás da Terra.
Ficam algumas imagens do caminho e as palavras de John Tolkien no livro “Lord of the Rings”.

The Road goes ever on and on,
Down from the door where it began.
Now far ahead the Road has gone,
And I must follow, if I can,
Pursuing it with eager feet,
Until it joins some larger way
Where many paths and errands meet.
And whither then? I cannot say.

domingo, 28 de julho de 2013

O Caminho do Norte: de Ribadeo a Finisterra

No dia 4 de Agosto de 2013 vamos partir de Ribadeo, pequena povoação localizada na fronteira entre as Astúrias e a Galiza, seguindo pelo antigo Caminho do Norte e pelo Caminho da Costa da Morte até Finisterra.
Passaremos por Santiago de Compostela, entraremos na Costa da Morte através de Muxia, e finalizaremos o Caminho no farol do cabo Finisterra ao por do sol do dia 16 de Agosto de 2013.
O Cabo Finisterra: o final do Caminho de Santiago de Compostela na Costa da Morte | Clica na imagem
No decurso da atividade vamos atravessar a Galiza de lés a lés em 13 etapas, de acordo com o seguinte agendamento:
Etapa 1 | Ribadeo » Lourenzá | 4 de Agosto | 30 km
Etapa 2 | Lourenzá » Gontán (1ª parte e 2ª parte) | 5 de Agosto | 23 km
Etapa 3 | Gontán » Vilalba | 6 de Agosto | 24 km
Etapa 4 | Vilalba » Baamonde | 7 de Agosto | 18 km
Etapa 5 | Baamonde » Miraz | 8 de Agosto | 20 km
Etapa 6 | Miraz » Sobrado | 9 de Agosto | 21 km
Etapa 7 | Sobrado » Arzúa | 10 de Agosto | 19 km
Etapa 8 | Arzúa » O Pedrouzo | 11 de Agosto | 19 km
Etapa 9 | O Pedrouzo » Santiago | 12 de Agosto | 20 km
Etapa 10 | Santiago » Negreira | 13 de Agosto | 21 km
Etapa 11 | Negreira » Olveiroa | 14 de Agosto | 37 km
Etapa 12 | Olveiroa » Muxia | 15 de Agosto | 28 km
Etapa 13 | Muxia » Finisterra (1ª parte e 2ª parte) | 16 de Agosto | 30 km
Para obteres mais informações sobre o Caminho, clica nos links associados a cada etapa. O site Xacobeo Galicia têm toda a informação que necessitas para explorar as jornadas desta Evasão.
Para inscrições e informação adicional contacta evasaoverde@gmail.com.
Um bom caminho para todos!

Pelos Jardins até à Serra do Buçaco | Fotos

No dia 28 de Julho de 2013 percorremos o conjunto monumental do Buçaco, que mobiliza uma riqueza patrimonial de exceção. Ao núcleo central formado pelo Palace Hotel do Buçaco e pelo convento de Santa Cruz juntam-se as ermidas de habitação, as capelas de devoção e os Passos que compõe a Via Sacra, a Cerca com as Portas, o Museu Militar e o monumento comemorativo da Batalha do Buçaco, os cruzeiros, as fontes e as cisternas, os miradouros ou as casas florestais.
O percurso com aproximadamente 15 quilómetros permitiu desvendar locais fascinantes como o convento de Santa Cruz, construído na simplicidade eremítica do Deserto, apresentando uma planta única em Portugal: a igreja domina um espaço sem claustros, com os pátios a imprimir regularidade ao conjunto. Ou seja, de acordo com a fundação mata do Buçaco, “nesta originalíssima ideia de usufruto espiritual é a igreja que se inscreve dentro de um espaço claustral simulado, recuperando a organização da ideia mítica do Templo de Jerusalém”.
Dentro da cerca conventual, apesar da extinção em 1834 da ordem dos Carmelitas descalços do Buçaco, subsistem as capelas de devoção e as ermidas de habitação, construídas para a vontade religiosa de reclusão. Todas elas atestam o desejo em torno do ideal de ascetismo e despreendimento material.
A partir de 1644, sob a égide de Dão Manuel Saldanha, reitor da Universidade de Coimbra, ergueu-se, à imagem de Jerusalém, uma Via Sacra de fortíssimos contornos ideológicos e propagandísticos, destinada a representar os passos da paixão de Jesus Cristo.
A 27 de Setembro de 1810 a mata foi palco da Batalha do Buçaco, um dos episódios sangrentos das invasões napoleónicas em Portugal, tendo o convento servido de base de operações ao Duque de Wellington no confronto entre as tropas luso-britânicas e francesas.
O Palace Hotel, construído entre 1888 e 1907, é considerado um dos pontos de maior interesse de todo o conjunto. Sob o projeto do cenógrafo italiano Luigi Marini, o edifício inscreve-se no cruzamento cultural de sentido romântico e nacionalista que absorve influências manuelinas e renascentistas.
Exploramos todos estes locais, mergulhados na Mata Nacional do Buçaco, resultado da permanência dos Carmelitas Descalços no seu “Deserto”.
Revelando ainda zonas da floresta autóctone portuguesa, a Mata foi sendo tratada por sucessivas gerações de monges de modo a representar o Monte Carmelo como o local originário da Ordem. Atualmente ocupa cerca de 105 hectares e possui uma das melhores coleções de plantas lenhosas da Europa, com cerca de 250 espécies de árvores e arbustos com exemplares notáveis, sendo uma das Matas Nacionais mais ricas em património natural, arquitetónico e cultural de Portugal.
Ficam as fotos e um trilho único como convite a um passeio num local mágico que importa descobrir, disfrutar e preservar.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pelos Jardins até à Serra do Buçaco 28/07/2013

No dia 28 de Julho de 2013 iremos efetuar uma caminhada numa das matas portuguesas mais ricas em património natural, arquitetónico e cultural.

A Mata Nacional do Buçaco é um bosque secular com árvores gigantescas, variadas, provenientes das longínquas terras de Missão, acarinhadas ao longo de cerca de 200 anos pelos carmelitas, que ali permaneceram até à extinção das ordens religiosas em 1834.

Classificado como imóvel de interesse público, o conjunto monumental do Buçaco mobiliza uma riqueza patrimonial de exceção. Ao núcleo central formado pelo Palace Hotel do Buçaco e pelo Convento de Santa Cruz juntam-se as ermidas de habitação, as capelas de devoção e os Passos que compõem a Via Sacra, a Cerca com as Portas, o Museu Militar e o monumento comemorativo da Batalha do Bussaco, os cruzeiros, as fontes (saliente-se a Fonte Fria com a sua monumental escadaria) e as cisternas, os miradouros (o da Cruz Alta oferece vista privilegiada sobre toda a região entre Coimbra e a Serra do Caramulo) ou as casas florestais.

Para além de explorarmos os Jardins, seguiremos também até à Serra do Buçaco, em tempos também chamada Serra da Alcoba, onde são captadas as águas do Luso e das Caldas de Penacova.



A caminhada começará às 10:30 da manhã na Capela São João Evangelista, no centro do Luso, nas seguintes coordenadas: 40°23'2.77"N (latitude) e 8°22'34.98"W (longitude). O percurso apresenta um grau de dificuldade baixo, sendo no entanto recomendável que levem alimentos, água, impermeável, chapéu, protetor solar e calçado confortável.

Caso estejam interessados em participar enviem um e-mail de confirmação para evasãoverde@gmail.com.

domingo, 7 de julho de 2013

À descoberta do Brasil 21/05/2013

As previsões meteorológicas não eram as mais favoráveis, os percalços no caminho eram espectáveis, mas a aventura era garantida e estava prestes a começar… com a consciência da valentia dos marinheiros de há cinco séculos atrás, rumámos às terras de Vera Cruz.

Ao contrário dos nossos corajosos antepassados que seguiram em naus e caravelas até Porto Seguro, onde indígenas receberam Pedro Álvares Cabral com curiosidade, nós aterrámos no Aeroporto de Guarulhos, na Região Metropolitana de S. Paulo, cujos 19 milhões de habitantes de diversas nacionalidades receberam-nos com… relativa indiferença.

Depois de um “café da manhã”, com suco de uva, papaia, mamão e muito pão de queijo morno, seguimos num tour pedonal urbano e cultural começando na avenida mais mítica de S. Paulo. Na Av. Paulista marcou-nos a diversidade arquitectónica, em formas, cores e materiais, como que numa competição pela sua imagem, a sua demarcação no território, como espécies botânicas de uma densa floresta de betão, aço e vidro, que competem pelo seu raio de atenção e protagonismo. Aqui, executivos misturam-se com jovens estudantes, senhoras nas suas compras quotidianas e “faxineiras” que, seguindo no seu passo assertivo, respirando a responsabilidade do trabalho e dos negócios, cruzam pedintes encardidos, sentados junto às fachadas.

Descendo a avenida parámos no MASP – Museu de Arte de S. Paulo, com obras contemporâneas de autores brasileiros, e também do barroco e do romântico, com grande predominância dos mestres italianos, claramente…

Seguimos para a Av. Vergueiro e Av. da Liberdade até à Catedral da Sé, um edifício do sec. XX mas com um estilo noegótico, inspirado nas grandes catedrais medievais europeias. O seu interior, tranquilo, solene e silencioso, contrastante com o bulício e agitação da cidade, permitia que diversas pessoas, de diferentes idades e condições sociais, ali parassem para a sua oração. Lá fora, na Praça da Sé, ladeada de altas palmeiras, pessoas seguiam firmes na sua passada rotineira, mas a maioria eram vagueantes, sem abrigo, que com o seu olhar perdido na vida, observavam a cidade a correr. Estão sentados nos degraus da escadaria, estão nos muretes da praça à sombra da vegetação. Homens sem trabalho, sujos, agrupam-se, uns para discutir qualquer assunto, outros a praguejar, outros assistem de forma interessada o discurso de um exaltado pastor de fé.

Seguimos em direcção ao Theatro Municipal, um elegante edifício do início do séc. XX, de estilo arquitetónico inspirado na Ópera de Paris. Neste trajecto pela “baixa” da cidade, os passeios estavam apinhados de pessoas que corriam em todas as direções, formando uma cidade viva, agitada, acelerada. Na zona do Theatro e do Viaduto do Chá, eram homens e mulheres que abordavam o transeunte para venda de jóias, de marroquinaria, prolifera o mercado paralelo e é possível assistir a vendedores ambulantes, vindos de algures, a correr desenfreadamente fugindo da polícia.

Deixando este cenário, seguimos em direcção a um completamente oposto – tranquilo, mais natural e mais enriquecedor - o Parque da Luz e a Pinacoteca do Estado que lhe fica adjacente. A Pinacoteca – Museu/Escola de Arte foi uma agradável surpresa - O edifício, o ambiente tranquilo e a qualidade da exposição. Obras alusivas ao tempo colonial, referências a um Brasil recém explorado, transportou-nos cinco séculos no passado, com toda a realidade sentida à época…fosse boa e construtiva, fosse lamentosa.

No dia seguinte, seguimos em direção ao Parque da Independência, junto ao Riacho de Ipiranga, onde D. Pedro IV de Portugal, tornava o Brasil independente. Com essa referência histórica como partida, fomos visitar as cidades costeiras de Santos, S. Vicente e a Ilha de Guarajá onde os navegadores portugueses chegaram a este Estado. Estas cidades têm um significado histórico muito forte, uma vez que colónia do Brasil foi oficialmente estabelecida em São Vicente (hoje Santos) em 1532 pelos portugueses, e a praia onde desembarcaram conserva-se naturalizada e ainda resiste o padrão dos descobrimentos às águas agitadas do atlântico. 

O percurso pelas rodovias que nos levaram até Santos – Anchieta e Imigrantes - é dominado pelos camiões de carga que estabelecem o circuito entre as indústrias da metrópole e o porto de Santos, o maior do Brasil e o mais movimentado da América latina. Porém, estas rodovias são rodeadas pela densa floresta selvagem da costa Atlântica, onde ainda vivem pumas e onças pintadas. A beleza da designada Mata Atlântica é deslumbrante, com montanhas luxuriantes, cascatas e flora diversificada, dando abrigo a diferentes espécies de animais, aves e borboletas de cores magníficas.

Ao final do dia quisemos ser surpreendidos pelo manto de luzes, cintilantes e perpétuas no manto escuro da noite, que enaltece a beleza do trabalho e do engenho do homem, quer na criação de uma metrópole como S. Paulo, quer na construção de um arranha-céus, em cujo topo, no 45º andar, se deleita um restaurante concerto - a Torre Itália.

No dia seguinte, seguimos para S. José dos Campos onde permanecemos dois dias – o encontro com famílias, amigos, gentes nascidas no Brasil há duas, três gerações, outras que foram trazidas em tenra idade. Ouviram-se histórias de trabalho, de luta, de uma vida de emigração bem sucedida, entre sorrisos, abraços e fotografias.

Ao quinto dia da nossa estada no Brasil quisemos conhecer um dos picos mais elevados do país – O Pico do Itapeva, com 2030m de altitude, é dos poucos pontos altos acessíveis por rodovia e está a um par de horas de S. José dos Campos. Aproveitámos para conhecer a “Suiça Brasileira”- Campos de Jordão e o seu belíssimo Horto Florestal onde pudemos efetuar “trilhas”, contemplar cachoeiras e uma diferente massa vegetal – predominante no pinheiro e nas araucárias – entre outras espécies que completaram um floresta mista em tons de Outono, que em Portugal tão bem conhecemos (os castanhos, os amarelos dourados, os vermelhos) e que não esperávamos encontrar num país tropical.

No dia seguinte, tínhamos que regressar a S. José dos Campos pois havia um avião para o Rio de Janeiro para apanhar e o culminar desta pequena viagem, numa avioneta de duas hélices, não podia deixar de ser contada…

A abordagem aérea ao Rio de Janeiro foi ao cair da noite. Num céu a escurecer mas onde os tons rosa-poente ainda sobreviviam, lá em baixo, as luzes da cidade assinalavam os seus contornos, as suas artérias e os seus pontos vitais. A longa ponte de Niteroi, toda pontilhada de amarelo, deixava prever um regresso a casa demorado, as principais artérias estavam bem vincadas pelas luzes dos congestionamentos e, de repente, uma estrutura ovalado, em tons néon azuis, roxos, lilazes, marcava a presença do grandioso estádio do Maracanã. Pequenas e trémulas luzinhas espalhavam-se pelas encostas dos morros, as avenidas do litoral Copacana, Ipanema e Botafogo, representavam compridas linhas concavas azuladas, num limite que o oceano impõe. E algures no alto, bem firme, bem brilhante, salientando-se no escuro que o cercava – o Cristo Redentor. E com este panorama, aterrávamos na Baía de Guanabara…

Quente, vibrante, com edifícios deslumbrantes no seu toque colonial, carregados de história, contrastantes com a vida moderna de um Brasil independente e próspero, os seus jardins de palmeiras tropicais, o pavimento em calçada portuguesa, rica, nobre e luminosa, abençoada pelo Cristo erguido do alto, que a acolhe nos seus braços fraternos – Esta é a cidade maravilhosa.

No dia que amanheceu solarengo e com um calor ameno, fizemos um tour ao Pão de Açúcar, à Praia Vermelha na Baía de Guanabara, ao Corcovado e Cristo Redentor, passando pelo Parque Nacional da Mata da Tijuca, com regresso por uma favela. Observámos de perto o Estádio do Maracanã e a passarella do Sambódromo de Oscar Nimayer. No final fomos deslumbrados pela Catedral Metropolitana. O aspecto cónico, linear e cinzento do betão exterior, não deixava adivinhar a obscuridade do silêncio, da reflexão, da elevação que o interior da forma afunilada imprimia. E suspenso, um único elemento iluminado – Cristo na Cruz.

Quando a noite caiu, quisemos ser guiados pela música popular brasileira. Ao vivo, deambulámos pela bossa-nova, pelo samba, choro e forró, e provámos os petiscos gastronómicos do Rio Scenarium. No coração do bairro boémio da Lapa, deixámo-nos seduzir pelas antiguidades deste casarão, transportados ao país colonial, com os seus artefactos, objectos de relicário e dos diferentes tipos de comércio, estatuetas das belas negras e trajes da época, permitindo-nos entrar em diferentes cenários da vida quotidiana dos últimos séculos.

No dia seguinte enveredámos por uma caminhada pela costa – um táxi deixou-nos no extremo do bairro nobre do Leblon, no sopé do Morro Dois Irmãos e fomos calcorreando a calçada portuguesa junto à praia, saboreando o ameno calor de Outono até inflectirmos para o interior, pelo jardim Alah (Alá), o parque que divide os bairros de Leblon e de Ipanema, até encontrar a Lagoa Rodrigo de Freitas. A visão desta lagoa interior, tranquila, que reflecte os morros e as torres que a rodeiam, estabeleceu um contraste instantâneo com a paisagem marítima, transformando a cidade num burgo continental. Depois de saboreada a tranquilidade da lagoa e dos nobres bairros de edifícios cuidados, atraentes, voltamos ao sabor marítimo, cruzando o bairro de Ipanema, o Arpoador e o Forte de Copacabana, até estendermos a nossa visão por esta longa e belíssima praia.

Como já levávamos cerca de dez quilómetros nos pés, decidimos apanhar um táxi para “saltar” Botafogo, Flamengo, e continuarmos a nossa trilha urbana a partir do centro. Aí permitimo-nos uma viagem no tempo, de um Brasil pós-colonial e Imperial, de fortes influências portuguesas e saboreamos as iguarias da Confeitaria Colombo, passeámos pela Praça Floriano, com os imponentes edifícios do Teatro Municipal, do Museu Nacional de Belas Artes e do palácio Pedro Ernesto. A noite já tinha caído, as luzes sublimavam os imponentes edifícios e era noite de estreia do bailado “O Quebra Nozes”. A baixa não podia estar mais mágica.

Mas havia que deitar cedo. Amanhã esperava-nos uma ilha… Considerado um paraíso ecológico tropical, a segunda Maravilha do Rio de Janeiro, com mais de 100 praias de areia branca fina e águas verde-azuladas, a Ilha Grande, é exuberante pela mata atlântica, oferecendo trilhas aventurosas, com cachoeiras, um elevado grau de humidade atmosférica, onde os animais selvagens, pacíficos, como macacos bugios, Saguis, tatus, cobras e lagartos andam à solta. Este é o cenário dominante: o verde tropical contrasta com o azul-turquesa da água…

Na Vila de Abraão, as ruas são maioritariamente em areia e a eletricidade pode falhar. Para a nossa pousada, construída sobre estacas de madeira entre formações rochosas naturais, o acesso era exclusivamente pela praia… nesta, umas trémulas velas e archotes marcam um bar e um restaurante na areia, onde o marisco e o peixe são soberbos…

Nos dias que aqui passámos, fizemos a trilha do Aqueduto – que nos permitiu refrescar na Cachoeira da Feiticeira e escutar em silêncio os sons da floresta tropical – aves exóticas como o pica-pau, tiés, sabiás e saracuras que não conseguíamos ver dada a densa vegetação, misturavam-se com o som intenso da água.

O percurso que optámos por fazer entre a Vila Abraão e a famosa praia de Lopes Mendes exigiu quase cinco horas de concentração permanente. Sob os gritos fortes do bugio, o maior primata da ilha, e o olhar nervoso dos saguis, tentámos manter a passada firme e não escorregar nas trilhas de textura argilosa que mais parecia barro pronto a moldar sob os nossos pés, entrecortado pelas raízes da densa vegetação que nos cercava e que não permitia a penetração de um único raio de sol.

Atravessámos ainda duas praias belíssimas – Palmas e Pouso - de um areal fino, mas mais curto, com as palmeiras quase a atingir a água cristalina… e algures dentro da vegetação, com a porta direcionada eternamente para o mar, uma pequena capela, branca, de contornos azuis. A gambiarra colorida, brilhava ao sol com a agitação do vento, fazendo-nos recordar que o povo brasileiro, na sua simplicidade, na sua estreita comunhão com a magnânima natureza… por mais remoto que esteja… é um povo de alegria.

Rota da Cividade | Fotos

Num dia quente de Verão, percorremos os caminhos rurais que ligam a Cividade de Bagunte à mítica povoação de Vilarinho, por onde passam os peregrinos do caminho de Santiago de Compostela.

A Cividade constitui-se num dos grandes povoados da Cultura Castreja do noroeste da península Ibérica e terá sido um centro populacional de apreciáveis dimensões, ombreando com outros povoados como a Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira), a Citânia de Briteiros (Guimarães), o Castro das Eiras (Vila Nova de Famalicão) e o Castro de Alvarelhos (Trofa), sendo como núcleo arqueológico, um dos mais importantes vestígios históricos do concelho de Vila do Conde.

Em posição dominante no alto de uma elevação proeminente, constitui-se num povoado fortificado da Idade do Ferro, posteriormente romanizado, apresentava-se como a guardiã da entrada dos vales dos rios Ave e Este, coadjuvada por um grupo de pequenos povoados do mesmo período, coexistentes na região imediatamente circundante. Possuía cerca de oitocentas casas, onde habitaram quatro mil pessoas defendidas por cinco linhas de muralhas.

A nossa rota permitiu-nos descobrir a Cividade e ficar a conhecer melhor uma região rodeada de campos de milho, repleta de segredos antigos, perdidos entre bosques e bouças, refrescados pela brisa Atlântica.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Rota da Cividade 06/07/2013

No dia 6 de Julho de 2013 seguiremos até às imediações de Vila do Conde para efetuar a Rota da Cividade de Bagunte, que estrutura uma visita pedonal num percurso situado entre a ponte do Zameiro e a ponte de São Miguel em Arcos, passando pela Cividade de Bagunte, maior e mais antigo monumento nacional do concelho.

De acordo com o site da Camara Municipal de Vila do Conde, o percurso parte da ponte medieval do Zameiro e segue para norte por um pequeno troço da antiga “Via Veteris” para o largo da Senhora da Ajuda, de onde se ergue uma pequena capela barroca. Aí, o percurso inflete para nascente e, cerca de um quilómetro depois, chega ao local onde outrora se ergueu uma Villa romana - “a Vila Verde”. Descoberta no início do século XX, ali apareceram várias sepulturas datáveis pelas moedas ali aparecidas entre o século III e o século V da nossa Era.

De Vila Verde a rota segue para a aldeia de Figueiró de Baixo, onde se pode ver um forno de cal conservado na Casa Peniche e conhecer um pouco da história da Villa Fikeirola - uma casa de origem romana que ali existiu até à Idade Média. De Figueiró de Baixo, o percurso segue pelo meio da floresta na direção da Cividade de Bagunte, subindo suavemente para Vilar, também local com interesse no período romano e daí para Casal Pedro, por entre altos muros, numa estrada florestal que evita o percurso ao longo das ruas da aldeia de Bagunte. Em Casal Pedro, a rota inflete para Este atingindo o centro da aldeia de Bagunte, no lugar de Santana, onde se situa a Igreja da Freguesia.

Descendo até à Igreja, a rota passa em frente ao cemitério e segue entre casas até encontrar à sua esquerda por um caminho florestal que, circundando por Sul a Quinta da Granja leva à Quinta de Cavaleiros e ao lugar de Corvos, na base da Cividade de Bagunte, onde antigas ruinas aguardam visita. Depois da visita à Cividade seguiremos para a ponte de São Miguel de Arcos, regressando até à ponte do Zameiro pelo Caminho de Santiago.  


A caminhada começará às 9:00 da manhã na ponte do Zameiro, nas seguintes coordenadas: 41°21'4.28"N (latitude) e 8°40'53.13"W (longitude). O percurso apresenta um grau de dificuldade baixo, sendo no entanto recomendável que levem alimentos, água, impermeável, chapéu, protetor solar e calçado confortável.

Caso estejam interessados em participar enviem um e-mail de confirmação para evasãoverde@gmail.com.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Viagem à Pré-História | Fotos

A poucos quilómetros do Porto existe uma Serra ampla, repleta de vastos horizontes sobre o litoral Atlântico, que alberga um património geológico precioso que importa desvendar.

Desde o fenómeno das pedras parideiras, tão fácil de observar nas imediações do Carvalhal, passando pelos diversos registos fósseis de um mundo pré-histórico antigo, onde as trilobites derivavam pelos montes que outrora eram fundo oceânico, até ao imponente vale do Caima, de onde se desprende a majestosa frecha da Misarela, até às antigas aldeias que pontuam o território, com os seus campos de cereal ondulantes, a Serra da Freita apresenta-se como um património precioso que importa explorar.

Assim, no passado Sábado efetuamos a Viagem à Pré-História, também designada de Pequena Rota 15. O percurso desvendou uma boa amostra do melhor que a Freita têm para oferecer, conduzindo-nos desde o frondoso Merujal, até à bucólica ruralidade de Albergaria da Serra, atravessando montes e vales pontuados com vacas, pedras e eólicas até ao Carvalhal, seguindo depois pela montanha até à Mizarela, de onde se pode avistar a grande e emblemática cascata do Geoparque de Arouca.

Num dia ensolarado, com uma agradável brisa sempre presente, o PR 15 valeu pela diversidade de elementos estéticos na paisagem, pela marcação regular, e pela facilidade com que pode ser executado, constituindo uma excelente opção para todos aqueles que gostam de caminhar.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Viagem à Pré-História 22/06/2013

No dia 22 de Junho de 2013 seguiremos até à Serra da Freita para efetuar um percurso que será uma autêntica “Viagem à Pré-História”.

O PR15 de Arouca incluirá amplas panorâmicas sobre o maciço da Freita, a observação da Frecha da Mizarela, assim como diversos elementos de elevada riqueza geológica, histórica e paisagística. Para mais informações sobre o percurso “clique aqui”.


A caminhada começará às 9:30 da manhã no Parque de Campismo de Merujal nas seguintes coordenadas: 40°52'23.60"N (latitude) e 8°17'30.31"W (longitude). O percurso apresenta um grau de dificuldade moderado, sendo recomendável que levem alimentos, água, impermeável, chapéu, protetor solar e calçado confortável.

Caso estejam interessados em participar enviem um e-mail de confirmação para evasãoverde@gmail.com.