domingo, 9 de julho de 2017

A rota do Cabo da Roca - 8 de Julho de 2017

Existem locais onde o mundo acaba. Finisterras onde o caminho termina abruptamente nas falésias, que se erguem como Adamastores no oceano, numa luta eterna entre os elementos na busca de um equilíbrio inatingível. A espuma das ondas que fustigam as rochas escarpadas, o vento cortante que anima o oceano e esculpe a terra, surgem num quadro épico suavizado pelas brumas de um nevoeiro sempre presente - inspiração de poetas marinheiros, inimigo de caravelas errantes - num vértice abismal que assinala o fim de um velho continente. 

Aqui, onde termina a terra e o mar começa, encontramos o perfil de um antigo farol que contempla o horizonte. Guardião daqueles que cruzam oceanos escuros e revoltos, é ele o responsável por afastar as trevas nas noites de tempestade, guiando as gentes do mar a bom porto. Foi nele que iniciamos e acabamos o PR7 de Sintra, acompanhando-nos com a sua presença intermitente no horizonte, assinalando o inicio e o fim do caminho… o inicio e o fim da europa.
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Este percurso circular de 10 km inicia-se no Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da europa continental, e prossegue ao longo de falésias, campos agrícolas e pinhais sobre dunas. Depois de passar pelas localidades mais interiores de Ulgueira e Almoçageme, continua novamente em direção ao litoral, agora até à Praia Grande, onde podem ser observadas pegadas de dinossauros e daqui até à vizinha Praia da Adraga, junto às falésias que servem de abrigo ou de local de nidificação a diversas espécies de aves.

 

Após a caminhada fica a memória de um percurso de uma riqueza paisagística e natural surpreendente, próximo de Lisboa, acessível a todos aqueles que gostam de caminhar. Agora, findo o caminho, deixamos o guardião dos mares a assinalar o fim do mundo, esperando pela visita de outros viajantes que ousarem explorar o Promontorium Magnum dos Romanos, situado no extremo oeste da parte emersa da serra de Sintra.

terça-feira, 27 de junho de 2017

À descoberta de um Gerês secreto - 24 de junho de 2017

Existem locais secretos. Espaços para lá da imaginação, onde a natureza perdura intemporal longe dos olhares do mundo, onde o vento e a água esculpem a terra sob a luz do sol e das estrelas. Existem caminhos que nos conduzem a esses locais secretos. Caminhos improváveis entre florestas de árvores antigas que ascendem aos céus nas costas de gigantes colossais, esculpidos em granito de um magma primordial que gelou em invernos glaciares, floresceu nas primaveras húmidas e ganhou identidade no calor dos dias, que revelam o circulo infinito de montanhas, vales e horizontes que subsistem desde o inicio dos tempos e perduram, para sempre… até ao fim.
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No dia 24 de junho de 2017 partimos do Parque de Campismo da Ermida às 6:30 da manhã para efetuar uma rota de 25 quilómetros através de um Gerês profundo que merece ser descoberto. O percurso incluiu a passagem nalguns dos sítios mais emblemáticos do Parque Natural, começando na Aldeia da Ermida, seguindo até à Cascata do Arado, passando pelos Prados Teixeira, subindo ao Alto do Barrageiro, descendo aos Prados do Conho, ascendendo ao Maciço Rochoso da Rocalva, descendo à Malhadoura, para seguir de regresso à Cascata do Arado e à Aldeia da Ermida.

O Alto do Barrageiro foi um dos pontos mais emblemáticos da nossa jornada. Sendo uma montanha com 1.430 metros é um desafio para qualquer montanhista amador, visto que só é possível aceder a ele através de um percurso pedestre desconhecido para a grande parte dos caminhantes. Mas o esforço compensa. Lá em cima a vista é algo de inesquecível, sem dúvida um dos melhores miradouros naturais do Gerês. Dali, o nosso olhar perde-se pelo vale do Cávado, as serras da Cabreira, de Fafe Basto, Amarela, do Soajo, da Peneda, do Larouco, do Facho, do Barroso. Em dias de boa visibilidade é possível avistar a Serra do Marão, localizada a uns bons 60 quilómetros de distância.

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Após uma rota única num Portugal profundo, fica o desejo de continuar esse caminho infinito, que espera por aqueles que sem medo se lançam intrépidos à aventura. Após mais uma Evasão que nos liga ao que mais de místico a Terra tem para oferecer - o sopro da vida nas pedras duras, a brisa suave que se desprende de um céu infinito, a vastidão das montanhas que tomam a forma dos sonhos - fica uma certeza: não existem segredos completamente inacessíveis, não existem locais suficiente altos, não existem vales demasiadamente profundos, nem cursos de água absolutamente intransponíveis.

Existe sim, uma natureza deslumbrante que merece a nossa visita. Levantemos os olhos para o céu e encurtemos as distâncias que nos separam do infinito, percorrendo os trilhos de um mundo rico em cultura e biodiversidade que vale a pena descobrir passo a passo.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Por montes e vales de Arouca - GR28 | Fotos

Algures entre o Douro e o Vouga, contemplando Aveiro e o Atlântico, o Maciço da Gralheira encerra uma Grande Rota que percorre as montanhas graníticas da Serra da Freita e da Arada, assim como os vales do Paivó e do Paiva, sobre o olhar atento da Serra do Arestal e de São Macário. O seu itinerário, com cerca de 90 quilómetros, viaja por um território de rara beleza, ligando um grande número de espaços naturais monumentais, que incluem aldeias de montanha, vales e cumeadas de onde se desfrutam extraordinárias paisagens, que por vezes cruzam o azul do oceano.

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Num dia 5 de maio chuvoso, iniciamos a Grande Rota na pitoresca aldeia de Candal, nas imediações da Igreja matriz, seguindo pelo caminho que desce para Covêlo de Paivô. Entre gotículas de chuva, cheiro intenso a terra molhada, e tons fluorescentes de verde, subimos para as antigas minas do Muro, de onde rumamos para Silveiras. Em Silveiras, junto à Capela, iniciamos a descida para Cortegaça e dali para Meitriz. Atravessamos o Paiva na ponte para Além-do-Barco, num local onde o rio e a vegetação se fundem numa tela a cores pastel, acentuadas pelas nuvens rápidas que, entretanto, foram deixando o sol entrar. A GR28 continua agora sozinha deixando o Paiva para trás, passa no Sobral encaminhando-se, em seguida, para o lugar da Fonte Tinta e depois para Vilar de Servos. Antes de aqui chegar o Maciço da Gralheira revela-se em todo o seu esplendor com espetaculares panorâmicas sobre os meandros do Paiva, o esporão de Louredo e sobre Janarde. Depois de Vilar de Servos seguimos por uma antiga estrada florestal até Casais e Quintela por onde se entra em Alvarenga, terminado a nossa 1ª etapa na Hospedaria Silva, local da nossa pernoita e do famoso bife de Alvarenga.

No dia 6 de maio seguimos para a Vila por caminhos tradicionais, seguindo em direção ao lugar de Lourido de onde, por caminhos antigos e florestais, descemos até aos passadiços do Paiva, local onde efetuamos a travessia do rio. Seguimos para o Centro de Interpretação Geológica de Canelas, e para Gamarão de Cima, rumando de seguida para a Senhora da Mó, iniciando aqui a descida para a Vila de Arouca. Iniciamos a subida até à capela de Santa Maria do Monte, local escolhido para término da segunda etapa, telefonando ao Sr. Brandão para nos levar para a Casa de Campo da Quinta da Guerra em Nogueiró. O Sr. Brandão (proprietário da quinta) sempre muito prestável ofereceu-se para nos levar ao restaurante para jantar e ainda nos foi buscar no final.

No dia 7 de maio bem cedo, o Sr. Brandão levou-nos até à capela de Santa Maria do Monte onde retomamos a Grande Rota, subindo para a Portelada, seguindo até Souto Redondo e Póvoa Reguenga. Da Póvoa seguimos para Merujal, atingindo a cumeada e a via romana que liga Viseu à Invicta. Rumando para leste, seguimos aquela via até Parque de Campismo do Merujal. Daqui continuamos até Albergaria da Serra, calcorreando a antiga via romana até à Portela da Anta. Um pouco à frente abandonamos a via romana e subimos até ao Vidoeiro. Após passar as ruínas da antiga casa florestal, iniciamos a descida para Tebilhão até Cabreiros e daqui até Candal onde terminamos a Grande Rota 28.

A Grande Rota surpreendeu pela positiva, com as suas amplas paisagens até perder de vista, os recantos mágicos que os cursos de água albergam, repletos de vida e luz que se desprende da vegetação ribeirinha. As vilas e aldeias, com chaminés fumegantes e petiscos tradicionais, onde gentes de sorriso franco sabem acolher com generosidade, deixaram uma vontade de voltar, e um misto de saudade e nostalgia. Agora, com as montanhas lá longe, e com o vento e as estrelas a guiarem os lobos que contemplam o Atlântico, numa terra de lendas e sonhos, traçam-se novos caminhos que partem para outros Mundos. A Grande Rota continua.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Por montes e vales de Arouca - GR28 - 5 a 7 de maio de 2017

Nos dias 5, 6 e 7 de maio vamos percorrer a Grande Rota do Arouca Geopark. Em 3 dias cruzaremos o vale de Arouca, as serras da Freita e Arada e os vales dos rios Paivô e Paiva. Ao longo de cerca de 90 quilómetros, que ligam um grande número de geossítios, as extraordinárias paisagens, as aldeias de montanha, os cursos de água, tudo surgirá de forma surpreendente.
Clicar para aceder a video de apresentação do Arouca Geopark
O percurso será realizado através das seguintes etapas: Etapa 1 (5 de maio, sexta-feira): Candal - Alvarenga (31,8 km); Etapa 2 (6 de maio, sábado): Alvarenga - Santa Maria do Monte (27,5 km); e Etapa 3 (7 de maio, domingo): Santa Maria do Monte - Candal (23,9 km).


O percurso apresenta um grau de dificuldade médio, sendo recomendável que levem comida, água, impermeável, luvas, gorro, lanterna (de preferência frontal) e calçado confortável.

Conforme habitual, agradecemos confirmação da participação p/ evasaoverde@gmail.com, p/ que possam receber mais detalhes sobre o percurso, assim como informação sobre o alojamento em Alvarenga (sexta p/ sábado) e em Santa Maria do Monte (sábado p/ domingo).